Doce Biblioteca

Fim de curso

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Faltavam menos de 48 horas para acabar a minha graduação. Passeando entre as páginas do meu trabalho de conclusão para escrever meu roteiro de apresentação, me deparei com algumas questões implícitas que deixei em meus capítulos. A começar com uma epígrafe que diz “as vezes eu faço o que eu quero. E as vezes eu faço o que eu tenho que fazer” da boa e velha Charlie Brown Jr, a banda. O meu tema em si, foi um grito de por favor, VAMOS ACOLHER O NOVO PERFIL DE ALUNOS DE BIBLIOTECONOMIA.

Quando eu entrei, já disse em outro texto, que foi só por livre pressão de entrar em uma universidade pública. Não tinha a menor intenção em ser bibliotecária (mas afinal de contas, quem é que tem?), não sabia nem o que era isso.

Entrei completamente de paraquedas, mas continuar foi uma escolha.

Nada fácil, confesso.

Tive aulas que eram um pesadelo. Algumas tão engessadas, que se o professor sorrisse, quebrava a escola toda e passaríamos o resto do semestre limpando a poeira. Poucas foram as que de fato me estimularam, me fizeram refletir e entender a minha profissão. Minha cara de tédio era visível em cada uma delas. Em meus cadernos tinham mais rabiscos que meu inconsciente mandava do que a teoria de Blablablasvoski. A universidade me esfregou várias vezes que eu não era pra ela, quis me matar aos poucos, foi encaixotando as minhas ideias com algumas frases pré-moldadas “isso aqui é pro mestrado”,  “isso não é Biblioteconomia”, “resumo do texto tal para a próxima aula”.

O que me fez bibliotecária foram as minhas experiências fora das paredes da universidade.

Sim, foram os estágios, a interação com alunos e pesquisadores, palestras, workshops, eventos, o metrô, as cervejas que eu tomei no Márcio. Aliás, o Márcio me fez mais bibliotecária que alguns professores. Ao menos, na disciplina de Marciologia não foi obrigada a caçar materiais para fazer slides e dar aulas no lugar do professor. Ele só dizia as cervejas que tinham disponíveis, quando lembrava, é claro.

Foi fora da universidade que eu me apaixonei pela Biblioteconomia. Foi no contato com usuário, foi na base da observação, da transferência de conhecimento tácito, das porradas que a vida me deu, dos projetos de incentivo à leitura que criei, de ver um aluno retornando pra buscar outro livro, porque aquele que indiquei foi sensacional e ele queria ler muito mais.

Tive que ir pro mundo para ver que a Biblioteconomia era pra mim sim. Conheci outras áreas, flertei com outros cursos. Queria explorar minha criatividade, minha liberdade, ser dinâmica, testar a minha resiliência, o meu lado empreendedor que eu sei que tinha. Caraca, eu fui a criança que vendeu desenhos porque escutou que outras crianças queriam pintar. E eu ainda sou aquela criança.

Como diz Gil, hoje eu me sinto como se ter ido fosse necessário para voltar.

Voltei e vi que a Biblioteconomia é o meu lugar. É o meu próprio oceano azul. É o meu espaço. É aqui sim meu lugar de criar, de inovar, de não querer ocupar espaços conquistados em concurso público.

Professores, não matem a criatividade dos próximos alunos que chegarão no semestre que vem. Estimulem, deem espaços para serem o que eles são. Não tentem formatá-los.

Se todos nascemos bibliotecários e a universidade só nos lapida, deixem por favor, que brilhemos com a nossa conta em risco. O valor é o mesmo.

Só deixem brilhar do jeito que quiser.

Não vou me diminuir para caber no Lattes.

Quarta eu acabei minha graduação.

Quinta serei livre.

Sexta serei a bibliotecária que eu sei que posso ser.

E ao sábado vou à praia pois preciso pegar uma cor.

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