Como não fazer um trabalho acadêmico

Neste final de semana, fui com a minha turma para o Aterro do Flamengo, bem popular entre as empresas de formatura. Já que só ele é usado como pano de fundo para todas as turmas de ensino superior do Rio de Janeiro, não é? O dia que uma turma fizer as fotos em outro local, tenho certeza que as câmeras mudaram automaticamente para o Aterro.

Não posso reclamar. O dia estava tão lindo e as fotos oficiais devem ter ficado no mínimo maravilhosas. O que vai me custar um rim. E talvez metade de um fígado no mercado ilegal.

E é claro que o clima de nostalgia contagiou toda a turma. Ficamos o dia inteiro juntos, relembrando os primeiros momentos na faculdade. Nossas dúvidas, medos, projeções pro futura naquela época. Lembrei do meu primeiro trabalho para a matéria de Fundamentos de Biblioteconomia, quando ainda estava no curso de licenciatura.

Essa aula foi ministrada pelo professor Moreno Barros. Um amorzinho de pessoa. Todas as meninas babavam nele. Também não era pra menos, o cara mandava muito bem no que fazia. E ainda, conseguiu desconstruir muita a famosa imagem do bibliotecário pra galera. Foi um dos primeiros que me deu novas visões e atribuições na carreira.

Cheguei em casa e procurei o trabalho, que nem parecia trabalho, poderia ser facilmente confundido com um post aqui do blog, seu objetivo era relatar uma visita à uma biblioteca pública com o olhar de estudante de biblioteconomia, e foi por este motivo que eu decidi compartilhar com vocês como não se deve fazer um trabalho para faculdade (caso tenha um professor ranzinza, é claro).

Uma visita surpresa (e conveniente)

Segundo uma pesquisa do Instituto Pró-Livro mostra que cerca de 75% dos brasileiros jamais pisaram em uma biblioteca e 71% da população têm fácil acesso a uma biblioteca. Confesso que deixei de fazer parte desta estatística em 2011.

A biblioteca escolhida foi a biblioteca do Sesc São joão de Meriti. Sendo a única biblioteca a atender para um município de quase meio milhão de habitantes até 2008. Porém ainda é a principal. A outra biblioteca é uma biblioteca comunitária do TRT onde grande parte do seu acervo é doado pelos funcionários. A biblioteca do Sesc atende um público aproximado de 20 mil pessoas cadastradas, em média 100 por dia.

Em 2011, em uma viagem a Paraíba, tive o primeiro contato com uma biblioteca pública na cidade de Cabedelo. Encantada, comentei com uma prima por que São João (a cidade que resido) não possui uma biblioteca e ela respondeu: “E a do Sesc? Fechou? lembro de passar tardes lá”. Fiquei surpresa e indignada por não ter ouvido falar sobre a “única” biblioteca do meu município. Quando retornei da viagem, fiz questão de conhecer a tal da biblioteca…

Comprar pra quê, se pegar emprestado é mais gostoso?

Na verdade, eu fiquei completamente entusiasmada com a biblioteca. Mesmo sendo pequena (imaginava aquelas estantes gigantescas, mesmo sendo em São João, mantive a ideia que seria um lugar com infiltração, teias de aranhas e uma passagem secreta que me levava a sala de poções), ela é completamente aconchegante, possui cheiro de lustra móvel, (melhor que poeira, ATCHIM!), ar-condicionado e o melhor LIVROS NOVOS!

Como era a minha primeira visita, fui acompanhada com uma amiga que já possuía cadastro. Fiquei um bom tempo escolhendo um livro, não fazia ideia de quais livros eram possíveis de se encontrar ali. Escolhido o livro, fomos atendidas por uma senhora simpática chamada Rita, não é bibliotecária mas poderia ser.

Gostei da experiência, da qualidade de estado dos livros, do local que é bem preservado e gostei principalmente que não precisaria comprar mais livros PORQUE AGORA EU PODERIA PEGAR EMPRESTADO.

Dois anos se passaram e nunca imaginaria que iria a biblioteca do Sesc por causa de um trabalho de BIBLIOTECONOMIA (até porque há 2 meses nem sabia o que era).

Mas e agora, Juvenal?

Retornei ao Sesc, não para fazer empréstimo de 50 tons de cinza e sim para analisar e conhecer o outro lado da moeda.

Apresentei-me para Rita (aquela atendente que poderia ser bibliotecária) e ela me apresentou a Eliana (a bibliotecária de verdade). E de forma bem simpática, respondeu minhas perguntas e ficou surpresa com o curso de Licenciatura. Eliane desistiu do curso de Direito e optou cursar Biblioteconomia, aqui na Unirio. Obviamente é bacharel, pois possui um emprego.

Animada, ela foi logo dizendo que a classificação é feita em CDD. E disse por algumas 100 vezes que era a primeira semana lá e que reorganizava a biblioteca inteiro com a ajuda de Camila Constatino, que está no 5° período. Ela me confessou também que ser bibliotecária do Sesc não era só organizar, catalogar os livros na biblioteca. E sim, montar projetos socioeducativos de integração a bibliotecas. Neste ano, estão sendo realizado dois projetos: Vou te contar! e o Fala, autor! Esses projetos são desenvolvidos em escolas da rede pública, tendo uma grande aceitação.

O Vou te contar! é um projeto de contação de histórias e no Fala, autor! os alunos tem acesso a uma obra de um determinado autor, logo após a leitura são realizadas atividades e por último é feito um encontro dos alunos com o autor. Já passaram por esse projeto Fátima Migas, Ricardo Rodrigues e muitos outros.

Perguntada sobre os possíveis defeitos daquela biblioteca, Eliana e eu compartilhamos a mesma opinião: a dificuldade de encontrar uma obra sem a consulta de um funcionário. E a mesma ainda complementou que desejaria ver mais materiais de pesquisas, já que a biblioteca contém acervo considerado de lazer, como romances, ficção, poesias e etc.

Os usuários têm 2 semanas para fazer a devolução do livro, podendo ficar suspenso se acaso entregar fora da data prevista (sempre fico suspensa!) Segundo Rita, o Sesc NUNCA ligou para um usuário com a finalidade de cobrar um livro. Durante a visita, ocorreu um caso bem peculiar. Um livro foi devolvido com o conteúdo trocado. A capa não correspondia ao miolo do livro. E isso só poderia ter duas explicações lógicas: Ou o livro da Clarice Lispector era muito bom ou um aluno de restauração estava praticando. Pois a troca foi muito bem realizada a não ser um único defeito, o conteúdo começava na página 97.

Considerações finais

Situada no centro da cidade de São João, acredito que a biblioteca do Sesc cumpra muito bem o seu dever sociocultural/socioeducativa. Seus projetos com amplas aceitações e bem planejados. Projetos integrados a outras áreas do Sesc, como teatro e meio ambiente também são realizados periodicamente. Conta também com um bom atendimento, um bom acervo, funcionários dispostos a ajudar. Brinquedos, fantoches e penduricalhos na área infantojuvenil, uma área que é usada por alunos de colégios próximos para estudos e preparação para o vestibular. Possui defeitos, como a difícil localização de livros, problemas nas devoluções, como aconteceu com Isabel (a amiga que me deixava usar seu cadastro), que devolveu seu livro porém não foi computado e tem a sua conta suspensa até hoje. Todavia, ela contém um quadro de funcionários dispostos a melhorar sempre para disseminar a informação.

Fim do trabalho.

E quase o fim da faculdade também.

 


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